TEXTO DE ABERTURA: FÓRUM JOVENS ARQUITETOS LATINO-AMERICANOS


Quando se pensou pela primeira vez na realização deste evento, dois aspectos se mostraram fundamentais para que levássemos a ideia adiante: o conceito, ou seja, achar um tema pertinente para o debate, e a curadoria, que consistiria em conseguir escolher nomes que refletissem bem a proposta do conceito escolhido.
Sobre o primeiro, era prioridade aproximar o tema em discussão da nossa prática cotidiana, reforçando um estreitamento entre teoria e prática, entre o que se discute e o que se faz. Era preciso que o projeto voltasse a ser a ferramenta maior do arquiteto para atuar, e era preciso aperfeiçoar esta ferramenta, para que ela não se tornasse uma arma contra nós mesmos. Com isso, começou a ficar mais claro o perfil dos arquitetos que deveriam ser convidados. Primeiro, era preciso arquitetos que estivessem projetando e construindo em suas cidades, sempre embasados em uma postura crítica e uma reflexão teórica. Outro ponto importante era o contexto dessas atuações, inseridas em realidades semelhantes às nossas, com os mesmos problemas urbanos e a mesma limitação de recursos. Os projetos apresentados não seriam apenas aqueles que vemos nos livros e nos conformamos em apreciar de forma passiva, convictos de que jamais faremos nada parecido, mas sim os mesmos que vemos nos nossos percursos cotidianos, os mesmos que realizamos em nossa prática todos os dias. O que veremos, portanto, são novas formas de encarar esses problemas e desafios, não os vendo com acomodação, mas como novas oportunidades de atuação. Procuramos selecionar arquitetos que não se destacam apenas por obras grandiosas ou impactantes, mas pela arquitetura do dia-a-dia, do nosso cotidiano e que não buscam se destacar nos contextos onde se inserem, deixando-se absorver e tornando-se parte deles como se sempre estivessem estado lá. É a arquitetura do homem comum que Edgar Graeff fala no livro Edifício.
Para isso, foram feitos dois recortes, um de lugar e outro de tempo. No primeiro, selecionamos a América Latina, não como forma de criar uma identidade para a arquitetura latino-americana, uma vez que, no atual mundo globalizado, torna-se difícil estabelecer elementos regionais que possam unir, em um estilo latino-americano, a arquitetura de seus diversos países. Não há dúvidas, no entanto, de que questões políticas, sociais e econômicas acabam por aproximar a produção arquitetônica desses países. Nos últimos anos, desenvolve-se na América Latina uma produção arquitetônica de valor, através de sua nova geração de arquitetos. Geração essa que vem provando que, em meio à escassez de recursos, limitações sociais, econômicas e políticas, é possível fazer uma arquitetura de qualidade. Surge daí o segundo recorte, selecionando justamente essa nova produção, arquitetos jovens que estão se inserindo e se firmando, e que podem mostrar caminhos e opções para atuar nestes contextos. Apesar da dificuldade de se tratar dessa arquitetura ainda sem um distanciamento histórico, é preciso se conhecer e discutir como estes arquitetos estão respondendo a estas novas questões. Mais do que mostrar exemplos consolidados, buscou-se mostrar estratégias de inserção, modos de ver e atuar nas cidades, apontando caminhos e, até mesmo, gerando novos conhecimentos. O arquiteto holandês Ole Bouman, quando perguntado sobre o papel das revistas de arquitetura na atualidade, disse que Por muito tempo as revistas especializadas contribuíram com o discurso da arquitetura com publicações pós-factuais. Elas reagiam à produção arquitetônica, fazendo a mediação entre o público e aquilo que havia sido transformado em realidade. Especulação e reflexão, quando muito, eram terrenos por onde transitavam os títulos mais especializados. Isso vai mudar. Como o paradigma da arquitetura está mudando do debate sobre a forma e a expressão para um foco no desempenho e na solução de problemas, as revistas podem assumir agora um papel muito mais ativo - sendo identificadoras de oportunidades, orientando os profissionais, servindo de ponte entre as demandas sociais e os talentos disponíveis. Vistas desse modo, as revistas não são observadoras passivas, meros veículos de atualização ou vendedoras de celebridades. Elas podem se tornar escavadoras dos futuros possíveis de uma disciplina que está em meio à reinvenção de si mesma.’ É nesse contexto que este evento se insere, não como observador passivo, mas como agente ativo nesse processo de reinvenção da disciplina chamada arquitetura.
E foi assim que chegamos a este momento. Esperamos que o que seja apresentado nestes três dias não nos dê respostas definitivas, mas que gere ainda mais perguntas e nos incentive a buscar, cada vez mais, melhores respostas.

* Este texto foi apresentado na abertura do Fórum Jovens Arquitetos Latino-Americanos no dia 08 de junho de 2011, na Fábrica de Negócios, em Fortaleza.